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sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Uma Carmo da Mata na periferia de BH

Uma Carmo da Mata sem um único carmense. Mas uma Carmo da Mata com ladeira, um bom dedo de prosa no boteco, uma limpeza de rua com jato d’água e um povo hospitaleiro, simpático e com muitas histórias para contar. Em meio às milhares de ruas de Belo Horizonte, uma delas, com 700 metros de asfalto irregular e casas de muros altos, nos chama a atenção. Mesmo sem saber que a Rua Carmo da Mata, no Bairro Saudade, Região Leste da capital mineira, foi batizada em homenagem a nossa cidade, moradores locais mantém características que lembram costumes carmenses.

É o caso do pintor Paulo Silva de Carvalho (foto), 51 anos, nascido e criado na região. Todo final de tarde, ele e os amigos se encontram no único bar da rua. É hora de colocar a conversa em dia. “A pinga não deve ser a mesma da sua terra, mas é boa também!”, ele diz, virando meio-copo da cachaça em um só gole.

Maria do Perpétuo do Socorro Silva, filha do dono do bar, garante a qualidade do estabelecimento. “Meu pai toma conta daqui tem uns 35 anos. O bar já existia e é referência do bairro. Aqui o tradicional é a cerveja gelada e o torresmo. Mas tem também dobradinha, pinga. Eu vendo de tudo”, conta.

O local também é ponto predileto dos moradores nas discussões sobre futebol. Tal como na cidade de Carmo da Mata, a rivalidade Atlético e Cruzeiro é grande. A paixão dos moradores da rua pelo esporte também é mostrada nas pinturas desgastadas em postes e trechos do asfalto: são marcas em verde-amarelo. Foi o que restou de lembrança da última Copa do Mundo, no ano passado.

A semelhança entre a rua de Belo Horizonte e a cidade carmense passa pelos traços geológicos. A rua nasce no alto de um morro, bem de frente a um dos muros que delimita o Cemitério da Saudade. Nos primeiros metros, a via tem um grande declive, formando uma espécie de tobogã. Depois, a descida fica menos acentuada. Em alguns lugares, foi necessária a colocação de quebra-molas para evitar o excesso de velocidade dos veículos.

A rua é estreita, bem arborizada e um piso de asfalto com alguns remendos. Cortada por outras quatro ruas, a Carmo da Mata vai se findar na Avenida Belém, próximo a uma favela conhecida pelos moradores como Mata do Inferno. A região é de fácil localização para o carteiro Elison Alves Botelho. “Excelente, e o pessoal é tranqüilo também”, ele diz, confirmando que não teve qualquer problema cachorros importunos. “As casas tem tudo caixa-de-correio”, ressalta.

Numa rápida caminhada, é possível perceber outros hábitos comuns à cidade do interior. Crianças brincam livres pela rua, pedestre caminham fora da calçada, vizinhos batem papo, moradores andam sem camisa e uma dona-de-casa varre a porta de sua residência com um jato d’água (foto), uma atitude, diga-se, ecologicamente incorreta. Além do bar, o único comércio da Rua Carmo da Mata é uma vídeo-locadora.

Uma das características do Bairro Saudade, segundo os próprios moradores, é o conservadorismo, por causa de famílias que ali se instalaram há décadas. Quase todas as casas têm um muro alto à frente, para dar maior proteção. Tal como na cidade de Carmo da Mata, na rua, todos se conhecem. E como um bom carmense, a vizinhança da rua também é desconfiada. Quando a reportagem fazia fotos do local próximo a uma casa em construção, os operários queriam saber do que se tratava, receosos com uma possível fiscalização.

Onde?

Os moradores entrevistados pelo Blog DiCarmo não sabiam que existia uma cidade chamada Carmo da Mata. “Onde fica?”, eles perguntaram. A dona-de-casa Darcy de Oliveira disse que já foi várias vezes em Oliveira, mas nunca tinha ouvido falar na cidade carmense. Matada a curiosidade, cada morador procurou descrever como é cotidiano na rua.

Darcy, 74 anos, que se mudou para a rua aos sete anos de idade, procura conviver bem com a vizinhança. “Não tem muito problema, não tem assalto”, comenta. O pintor José Geraldo da Silva, 43 anos, é nascido na região, assim como o irmão Paulo. Ele ficou surpreso ao ser informado que existia uma Carmo da Mata bem maior que aquela onde ele morava. Ele não tem nada do que reclamar dos vizinhos. “É um povo bacana, são pessoas que não querem confusão”, ele comenta.

A proximidade com o cemitério é uma peculiaridade que faz José Geraldo se recordar da infância. “Antigamente, eu ficava com medo. O cemitério era cercado por grade, não por muros. Quando chovia, era aquela enchente de crânio, fêmur, ossos. Eu ia para a rua com medo”, conta.

O único ponto em comum entre a rua do Bairro Saudade e a cidade do interior de Minas está bem debaixo dos pés do moradores de BH. É um tampão de ferro no centro da rua, logo na primeira esquina. O objeto tem os dizeres: F. Carmense. É um tampão fabricado pela Fundição Carmense, a precursora do ramo na cidade. Sua presença ali não deixa de ser um símbolo de que Carmo da Mata, afinal, transpôs as fronteiras e se fez presente na capital mineira. (Fotos Thiago Nogueira)

13 comentários:

Unknown disse...

Thiago,
Eu ja tinha visto essa rua. É perto aqui de casa!!!
Tenho certeza que a rua é tão boa quanto a cidade!!!
A reportagem ficou bem legal!!!

E so pra ressaltar, nao é so na rua Carmo da Mata que tem o tampão de ferro da F. Carmense não, BH também foi tomada por eles!!! Heheh!!

Beijos!!

Thiago Nogueira disse...

Oi Déborah.
Eh, vc tem razão. A cidade está cheia de tampões de fundições de Carmo da Mata. Não só da Carmense, mas também da Fundição Imperial, Fundição Álea, Ferrio, entre outras. Quem sabe dê uma reportagem também.

Valeu pela dica!

E continue de olho no blog, hehe!

Anônimo disse...

Legal saber que a cidade de Carmo da Mata tem expansão mesmo que em emblema toponímica na capital mineira. Felicidades sempre.
OBS: A FOTO DA PRAÇA DE CARMO DA MATA FICOU LEGAL COMO BANNER DO BLOG PENA TER ESCOLHIDO UMA COR DA LETRA QUE NÃO CAIU BEM. FICA A SUGESTÃO PELA COR BRANCA PARA PODERMOS APRECIAR MELHOR A FOTOGRAFIA EM QUESTÃO.

Thiago Nogueira disse...

Valeu Casão pela observação, mas a cor branca fica pior e não dá pra ler o texto... inclusive estou estudando uma reformulação visual do blog para dar mais espaço a paisagens e símbolos da cidade.
Aguarde aeh...

Obrigado pela audiência!

Anônimo disse...

Oi Thiago,,
bom dia!
Descobri por acaso seu blog e gostei muito(não direi:"gostei demais",porque gostar nunca é demais, concorda comigo? E olha, viajei pelo blog, viajei pela minha Carmo da Mata. Então serei a Anônima Carmense, mas saiba que num futuro, deixarei de ser anônima e me apresentarei a vc.Parabéns pelo blog..,E como boa carmense, estou "matutando" para descobrir quem é vc.Abraços.

Anônimo disse...

Fala Thiago,
Tava vasculhando vasculhando aqui, e achei seu blog ta muito legal gostei da matéria sobre a rua, mais pra ficar igual a Carmo da Mata mesmo so falta troca o asfalto pelas nossas ruas de pedra.Abraços

Thiago Nogueira disse...

Oi futura ex-anônima...
Que bom que tem gostado do blog. Sempre que puder, estarei informando carmenses ausentes ou não dos fatos da cidade.
(Se quiser descobrir quem sou, sugiro dar uma vasculhada no Orkut)

E boa observação Márcio, mas pode ser que aconteça exatamente o contrário: que tal uma Carmo da Mata (cidade) asfaltada? O assunto polêmico e vez ou outra é discutida na cidade...

Anônimo disse...

Olha eu aqui novamente.
Essa coisa de asfalto tira a poesia de nossa cidade..Uma Carmo da Mata para se eminentemente mineira tem de ser com calçadas, cheiro de café, sino da matriz e muito pão quentinho .Concordam comigo?
Abraços

8o JN 1/2007 disse...

Almir Moura

Tudo o que possa lembrar a nossa cidade natal se torna extremamente enriquecedor do ponto de vista cultural. Carlos Drummond não esquecia de Itabira. E nós também sempre estamos atentos ao que possa nos submeter a uma lembrança da cidade de origem, como por exemplo o nome de uma rua, uma casa ou um hábito dos moradores. Ótima matéria, que deve ser visitada não só pelos carmenses, mas por todos que gostam de um jornalismo feito com qualidade. Como conheço a cidade de Carmo da Mata, agora preciso conhecer a rua e quem sabe fazer alguns amigos por lá. Parabéns Thiago.

Thiago Nogueira disse...

Valeu Almir!!

Anônimo disse...

Parabéns pela reportagem Nogueira!Agora, o Almir não muda nunca... é um puxa-saco de marcar maior!(brincadeira) Parabéns, sempre em frente. Abraços

Hermano Chiodi

Thiago Nogueira disse...

Hehe... Valeu Hermano...
Agora, quanto ao Almir, imagina se o blog fosse da chefe dele...?
Abraço

Dávila disse...

háhá ! eu moro no saudade ... tava pesquisando por imagens e encontrei o blog ! =p

coméeeedia !