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terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Carnaval 2008: um parecer forasteiro(*)

O Blog DiCarmo pediu que o jornalista Sidney Gomes contasse a experiência do primeiro carnaval passado em Carmo da Mata. Confira:

Pela primeira vez, depois de longos anos sem folia, participo de uma festa de carnaval. Nasci e fui criado em Caratinga, no leste do estado. Cidade que já teve grande tradição carnavalesca e, infelizmente, viu essa festa agonizar até morrer de vez.

O que me chamou a atenção em Carmo da Mata foi justamente o que faltou à minha terra - o apoio irrestrito dos "nativos". Em vez de procurarem destinos manjados, como o litoral ou as cidades históricas mineiras, eles prestigiam a festa local. E não só: os carmenses, principalmente os ausentes, têm orgulho de levar os amigos forasteiros para aproveitar a folia momesca. Havia no carnaval muitos foliões de outras cidades da região, como Itaúna e Pará de Minas, e forte presença de moradores da capital.

Uma festa carnavalesca, para ser tradicional, não precisa, necessariamente, ter décadas de existência. Ela pode ser tradicional trazendo, na sua composição, elementos que tradicionalmente fazem parte da folia, como bateria, blocos caricatos, marchinhas clássicas - até mesmo bonecos parecidos com os de Olinda. Tradição maior, impossível.

Outro ponto que não pode ser ignorado, atualmente, é o monopólio da axé music. Não é, absolutamente, uma crítica. É uma manifestação da modernidade da festa, conforme demanda legítima dos foliões. Hoje o carnaval, em boa parte do país, é regido pelos tambores da percussão baiana. Quando a folia agonizava em minha terra, no início da década de 90, o axé era uma coisa muito incipiente. Havia alguns nomes, como Luiz Caldas, e o desabrochar de Daniela Mercury. O que predominava, à época, eram as marchinhas e alguns sambas-enredos conhecidos. Hoje, a música da Bahia dá licença apenas para o funk que se tormou o hit do verão 2008.

Sem a confiança da população e dos filhos ausentes, não há carnaval que resista. O que sobra, em casos como esses, é uma cidade jogada às moscas e moradores reclamando, indevidamente, do marasmo durante o período, sem saber que o tédio só tomou conta do lugar por causa deles próprios. Os grandes responsáveis pelo sucesso do carnaval em Carmo da Mata, sem dúvida nenhuma, são os carmenses.

(*) Sidney Gomes é jornalista formado pela PUC Minas. Atualmente, trabalha nos programas Feminina e Primeira Página, da TV Alterosa.